Ele se
apresentou a mim e disse que seu nome era Pirata da Cara de Pau. Imediatamente,
pensei em corrigir para “Perna de pau”, mas ele já estava sentando em minha
mesa, comendo de meu tira-gosto e pedindo ao garçom um chope, tendo apresentado
a ele meu papel de anotar as bebidas. Realmente, embora tivesse um olho tampado
e uma roupa condizente com o título, tinha duas pernas muito bem-feitas, por
sinal, pensei, abafando um sorriso entusiasmado. Aliás, a tal cara, embora
fosse aos poucos sendo confirmada, era morena e muito bonita. E eu me
perguntava por que aquele pirata de carnaval tinha resolvido sentar à minha
mesa, já coroa eu, com tantas meninotas, em outras mesas, que olhavam,
insistentemente para ele e, surpresas, para mim. Um golpe, era isso? “Essa
coroa, solitária, com ar de boba, deve ter dinheiro”, a frase sendo formulada
na cabeça dele, mal me viu. Empurrei para fora do pensamento minha animação com
a figura atraente do rapaz e acordei minha avaliação crítica sobre os seres
humanos, crítica que trazia, sempre puxada pela coleira, minha matilha de cães
ferozes e famintos. Com um ar blasè e irônico, fui dando corda ao moço, sua
conversa alegre e viva, que mandou vir mais tira-gostos – só dos mais caros – e
chope. Tudo no meu papel. Já meio preocupada e para mostrar que eu não era
tola, sugeri a ele que abrisse uma comanda só para ele. Jovialmente, ele
sorriu, dizendo que não era preciso. Tinha de ir embora mesmo, pois o bloco de
carnaval já ia sair. Apertou minha mão com força e franqueza, pegou tudo o que
o garçom tinha anotado, foi ao caixa, apontando para minha mesa. Pagou toda a
nossa despesa e saiu, não sem mandar um beijo de longe. Boca aberta, ainda
pensei que o carnaval é mesmo uma festa surpreendente.
Fonte: http://conto-gotas.blogspot.com.br/2011/09/amor-de-carnaval.html
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